França. Esse país exótico, tão afamado pelas baguettes, vinho, queijo e por mulheres que não conhecem os prazeres da depilação. Em termos futebolísticos, a relação exportadora com Portugal nunca foi a melhor. Senão vejamos.
Napoleão esteve por cá durante o século XIX e não guardou grandes recordações. Passaram-se longos anos sem episódios dignos de registo, até que, no Verão de 1990, voilá!, aterra no nosso país a grande promessa Stéphane Paille. No Porto, arrebitaram-se as sobrancelhas, o povo soltava oh-la-la’s de espanto, estava ali o melhor jogador do campeonato francês de 1989. Vlk, outra contratação desse ano que em condições normais mereceria todas as atenções pela sua estranha conjugação de consoantes, foi relegado para segundo plano: os olhos estavam todos em cima do bom do Paille. Mas assim que a bola começou a rolar, uma aura de desilusão assombrou o anfiteatro das Antas. Longe dos Campos Elísios, Paille não conseguia desenvolver todo o seu propalado potencial. Kostadinov exasperava perante mais um pontapé de Paille na atmosfera, questionando “Então, Stéphane? Que m***a foi essa, pá?”, num português tão explícito que toda a bancada percebeu que teria de ser Domingos a ter Paciência para aturar o génio difícil do búlgaro. Paille, apesar de francês, não se deu bem na terra das francesinhas. O treinador disse-lhe “je suis très désolé” e Paille esforçou-se por não contrariá-lo, nem sequer indo para o banco em algumas ocasiões. Passado um ano era devolvido à precedência e o FCP ainda não recuperou totalmente desse enorme trauma: só no novo século voltou a contratar um francês, o pouco ortodôntico Cissokho, e mesmo esse não se aguentou lá por muito tempo.
Mais a sul, também se quis descobrir o perfume gaulês nos anos 90. Mas os resultados não foram mais animadores. Foi uma época de revoluções, aquela que o Rei Artur, também ele um francófono, quis implementar no SLB em 1994. Já havia Nelo e Tavares com o papel da artilharia pesada no meio-campo, então faltava só alguém para acender o rastilho. E esse alguém era Jean-Jacques Eydelie, a quem Rei Artur, lânguido, soltou por entre o seu robusto bigode: “Voulez-vous jouer avec moi… ce soir?”. Eydelie, um exilado da estirpe de Bonaparte, era um cintilante mago da bola cujas trapaças da vida o enredaram para fora do seu país Natal. Regressou da sua ilha de Elba, enamorou-se pelo SLB como Tomasson e vestiu a camisola como Rushfeldt. Serviu-lhe e ele ficou. Porém, nas contas finais, nem um minuto para amostra. Jogou menos que Andrés Diaz. Repito: jogou menos que Andrés Diaz. Pronto, jogou tanto como Simanic. Ou como Abazaj. Mas isso nunca pode ser um bom termo de comparação. O fantasmagórico Eydelie rumou em busca do seu Waterloo mal a época findou, como parecia evidente. Só mais tarde revelaria que a sua permanente ausência dos relvados lusos fazia parte de uma promessa pessoal, consubstanciada num livro com um título deveras sugestivo. É pena, Eydelie tinha um cabelo muito frondoso e daria um excelente cromo, mas nem sequer apareceu para figurar nas nossas colecções. Fica aqui a nossa lembrança, ó Jean-Jacques.
Mais ao lado, demorou só um pouco mais para chegar o primeiro exemplar francês. Nome de guerra: Didier Lang. Não, não era tão langão como o Pedro Barbosa. Mas também ficámos sem saber bem como seria ao certo. O tipo tinha um certo aspecto francês, lá isso é verdade. Tinha cara de ter uns pais que possuíram orgulhosamente um Citroën boca-de-sapo e que ficava até tarde a ver repetições do Hinault na Volta a França. E até podia ser jogador de futebol, mas isso até o Vidigal era e não vinha de França. Concretamente, Lang foi o Ivo Damas antes do próprio Ivo Damas: tinha deslumbrado, no que provavelmente fora a noite da sua vida, num jogo em que o semi-anónimo Metz, ainda menos cotado que o Martini com o mesmo nome, despachara o SCP da UEFA. E como recompensa veio cá passar um ano tranquilo. O Damas só viria mais tarde no desenrolar da época e, como é óbvio, Lang perdeu o seu espaço. Lang conheceu Bruno Giménez e César Ramirez, trocou contactos de telefone com Saber, contou uma anedota ao Leão que este não percebeu e pisou uma vez um presente canino à entrada da porta 10-A, por estar distraído a ouvir Edith Piaf no seu walkman. E é tudo que se sabe. Tal era o estado do SCP nesse ano que até jogou bem mais do que o bom senso recomendaria.
Depois destes pioneiros, a torneira francesa começou a abrir-se mais um pouco. Com especial incidência para os gardiens de but: o eterno Palatsi, Yannick (que não Djaló), Debenest, Quievreux e Peiser. E tipos de sucesso, como o estóico Quevedo, senhor do lado esquerdo da defensiva, o típico nº5 que acabou por merecer um perfume com o seu nome, como pode ser visto acima. E tipos esquisitos, como Dyduch e Rabarivony. E tipos que eram humanos, sim senhor, como Agasson e Paviot. E Tixier, Desmarets e Kelly Berville. E o afrancesado dos Santos e o multimilionário Laurent Robert. E o acidentado Sinama-Pongolle, a escrever história neste momento. E aquele que merece toda a nossa simpatia, que é o Godemèche. Je vous aime et moi non plus. Merci beaucoup.
Napoleão esteve por cá durante o século XIX e não guardou grandes recordações. Passaram-se longos anos sem episódios dignos de registo, até que, no Verão de 1990, voilá!, aterra no nosso país a grande promessa Stéphane Paille. No Porto, arrebitaram-se as sobrancelhas, o povo soltava oh-la-la’s de espanto, estava ali o melhor jogador do campeonato francês de 1989. Vlk, outra contratação desse ano que em condições normais mereceria todas as atenções pela sua estranha conjugação de consoantes, foi relegado para segundo plano: os olhos estavam todos em cima do bom do Paille. Mas assim que a bola começou a rolar, uma aura de desilusão assombrou o anfiteatro das Antas. Longe dos Campos Elísios, Paille não conseguia desenvolver todo o seu propalado potencial. Kostadinov exasperava perante mais um pontapé de Paille na atmosfera, questionando “Então, Stéphane? Que m***a foi essa, pá?”, num português tão explícito que toda a bancada percebeu que teria de ser Domingos a ter Paciência para aturar o génio difícil do búlgaro. Paille, apesar de francês, não se deu bem na terra das francesinhas. O treinador disse-lhe “je suis très désolé” e Paille esforçou-se por não contrariá-lo, nem sequer indo para o banco em algumas ocasiões. Passado um ano era devolvido à precedência e o FCP ainda não recuperou totalmente desse enorme trauma: só no novo século voltou a contratar um francês, o pouco ortodôntico Cissokho, e mesmo esse não se aguentou lá por muito tempo.
Mais a sul, também se quis descobrir o perfume gaulês nos anos 90. Mas os resultados não foram mais animadores. Foi uma época de revoluções, aquela que o Rei Artur, também ele um francófono, quis implementar no SLB em 1994. Já havia Nelo e Tavares com o papel da artilharia pesada no meio-campo, então faltava só alguém para acender o rastilho. E esse alguém era Jean-Jacques Eydelie, a quem Rei Artur, lânguido, soltou por entre o seu robusto bigode: “Voulez-vous jouer avec moi… ce soir?”. Eydelie, um exilado da estirpe de Bonaparte, era um cintilante mago da bola cujas trapaças da vida o enredaram para fora do seu país Natal. Regressou da sua ilha de Elba, enamorou-se pelo SLB como Tomasson e vestiu a camisola como Rushfeldt. Serviu-lhe e ele ficou. Porém, nas contas finais, nem um minuto para amostra. Jogou menos que Andrés Diaz. Repito: jogou menos que Andrés Diaz. Pronto, jogou tanto como Simanic. Ou como Abazaj. Mas isso nunca pode ser um bom termo de comparação. O fantasmagórico Eydelie rumou em busca do seu Waterloo mal a época findou, como parecia evidente. Só mais tarde revelaria que a sua permanente ausência dos relvados lusos fazia parte de uma promessa pessoal, consubstanciada num livro com um título deveras sugestivo. É pena, Eydelie tinha um cabelo muito frondoso e daria um excelente cromo, mas nem sequer apareceu para figurar nas nossas colecções. Fica aqui a nossa lembrança, ó Jean-Jacques.
Mais ao lado, demorou só um pouco mais para chegar o primeiro exemplar francês. Nome de guerra: Didier Lang. Não, não era tão langão como o Pedro Barbosa. Mas também ficámos sem saber bem como seria ao certo. O tipo tinha um certo aspecto francês, lá isso é verdade. Tinha cara de ter uns pais que possuíram orgulhosamente um Citroën boca-de-sapo e que ficava até tarde a ver repetições do Hinault na Volta a França. E até podia ser jogador de futebol, mas isso até o Vidigal era e não vinha de França. Concretamente, Lang foi o Ivo Damas antes do próprio Ivo Damas: tinha deslumbrado, no que provavelmente fora a noite da sua vida, num jogo em que o semi-anónimo Metz, ainda menos cotado que o Martini com o mesmo nome, despachara o SCP da UEFA. E como recompensa veio cá passar um ano tranquilo. O Damas só viria mais tarde no desenrolar da época e, como é óbvio, Lang perdeu o seu espaço. Lang conheceu Bruno Giménez e César Ramirez, trocou contactos de telefone com Saber, contou uma anedota ao Leão que este não percebeu e pisou uma vez um presente canino à entrada da porta 10-A, por estar distraído a ouvir Edith Piaf no seu walkman. E é tudo que se sabe. Tal era o estado do SCP nesse ano que até jogou bem mais do que o bom senso recomendaria.
Depois destes pioneiros, a torneira francesa começou a abrir-se mais um pouco. Com especial incidência para os gardiens de but: o eterno Palatsi, Yannick (que não Djaló), Debenest, Quievreux e Peiser. E tipos de sucesso, como o estóico Quevedo, senhor do lado esquerdo da defensiva, o típico nº5 que acabou por merecer um perfume com o seu nome, como pode ser visto acima. E tipos esquisitos, como Dyduch e Rabarivony. E tipos que eram humanos, sim senhor, como Agasson e Paviot. E Tixier, Desmarets e Kelly Berville. E o afrancesado dos Santos e o multimilionário Laurent Robert. E o acidentado Sinama-Pongolle, a escrever história neste momento. E aquele que merece toda a nossa simpatia, que é o Godemèche. Je vous aime et moi non plus. Merci beaucoup.
1 comentário:
DROIT AU CHROME!!
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